"Uma vida que não é examinada não merece ser vivida!"
Sócrates

domingo, 27 de março de 2011

A 'sede', a sede da 'sede' e a 'sede' da 'sede'...


Na Sagrada Escritura o termo ‘sede’ designa, especialmente nos Salmos um desejo forte e profundo, uma necessidade sentida. O objeto de tal sede frequentemente é Deus mesmo: “A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo: quando hei de ir ver a face de Deus?” “De ti tem sede minha alma, anela por ti minha carne, como terra deserta, seca, sem água.” (Sl 42, 3; 63, 2)
A sede é um fato, e, como denota carência, quando se fala em sede de Deus também logo se pensa em realização plena, completude, felicidade...
O Catecismo da Igreja Católica no nº 27 relaciona o desejo (sede) de Deus inscrito no coração do homem com a felicidade que este não cessa de procurar e afirma que só em Deus é que a pode encontrar.
Sendo assim, a sede da sede é o coração do homem, e, em última análise, na bíblia o coração designa a totalidade do homem. Logo, a sede mora no homem, o homem é a morada, a sede da sede. Não há homem que não seja sede desta sede de Deus.
No Evangelho deste 3º domingo da Quaresma nosso Senhor aparece pedindo a Samaritana: “Dá-me de beber” (Jo 4, 7) o que nos remete a outro episódio – o da cruz- onde o Cristo diz: “tenho sede” (Jo 19, 28). Se diz: “Dá-me de beber” é por que tem sede. Sede de quê? Responde-nos Santo Agostinho, citado pelo Catecismo da Igreja Católica no nº 2560: “tem sede de que nós tenhamos sede dele”.
O que Jesus quer, neste episódio com a Samaritana é despertar nela o sentido do verdadeiro objeto de sua sede, o mais profundo, o “único necessário”. (Lc 10, 42) Para conseguir tal objetivo faz o que lemos na perícope enquanto contemplamos o absurdo de ver a Fonte pedindo de beber! A Saciedade tendo sede! Tendo sede de que a sede da sede saiba de que sede é sede... “Se conhecesses... quem é que te diz...” (Jo 4, 10) Se a sede da sede conhecesse que Ele é a Fonte, a sede da saciedade da sua sede... “...tu é que lhe pedirias e ele te daria água viva!” (Jo 4, 10)
Ele e só Ele pode nos dar água viva. Ele que não tem vasilha com que tirá-la, mas é a Fonte mesma; Ele, cujo amor é mais profundo que o poço. (cf.: Jo 10, 11) “Pedi e recebereis”. (Mt 7, 7)
Contudo, atendamos ao apelo da Fonte sedenta: “Dá-me de beber”. Como? Conheçamos o ‘Dom de Deus’ e ‘quem é que nos diz’. (cf.: Jo 4, 10)
O ‘Dom de Deus’ é o Espírito Santo que nos foi dado (cf.: Rm 5,5) é nele que adoramos o Pai, que somos os adoradores que o Pai deseja – os que o adoram em espírito. (cf.: Jo 4, 23) Aliás, é nele que podemos clamar: “Abbá, Pai”; (cf.: Rm 8, 15) Ele que pairava sobre as águas no princípio...(cf.: Gn 1, 2) “No princípio era o Verbo...” (Jo 1, 1) O Espírito, Dom de Deus, paira sobre as águas vivas que o Verbo feito carne nos oferece...
E ‘quem é que nos diz’? Aquele que nos diz desde o princípio. (Jo 8, 25)
É Deus quem nos diz! Deus que se faz humano e sedento pra saciar nossa sede! Podemos confiar! Podemos nos achegar e pedir como a Samaritana: “Dá-me sempre dessa água...” (Jo 4, 15) Atendamos ao seu convite: “Se alguém tem sede venha a mim e beba.” (Jo 7, 37)
Saciemos a nossa sede da Fonte e nos tornemos então aquedutos como a Samaritana que se pôs a testemunhar: “Vinde ver um homem que me disse tudo o que eu tenho feito.” (cf.: Jo 4, 29) Sejamos esses canais a indicar aos nossos irmãos a Fonte onde poderão saciar a sua sede. Uma vez saciados, apontemos a Fonte! Lembremos que o Cristo valorizou e prometeu recompensar quem quer que desse a um discípulo seu um copo de água fresca. (cf.: Mt 10, 42) Como não recompensará e valorizará quem tiver dado a um deles o endereço da Fonte de água viva?
“Quem crê em mim, do seu interior manarão rios de água viva.” (Jo 7, 38)
“Acredita-me” (cf.: Jo 4, 21)

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