"Uma vida que não é examinada não merece ser vivida!"
Sócrates

quinta-feira, 15 de julho de 2010

O santo que eu quiser ser!

Deus quer que eu seja santo e quer que eu queira sê-lo.

Santidade é vontade dEle, e, não por coincidência é também anseio de todo homem,

Pois todo homem tem em si o profundo desejo de felicidade que não pode calar.

E quem diz felicidade, diz santidade! Se identificam!

Serei santo por que Ele quer, mas minha compreensão irá além...

Deus é Amor e é onisciente, sabe o que é melhor pra mim e não pode querer pra mim senão o melhor, a minha felicidade!

Serei santo por que eu quero, por que a primeira pessoa do presente do indicativo do verbo querer é Eu faço!

E se eu quero descubro que devo querer por que me foram dadas a inteligência e a consciência que me obrigam a buscar o melhor pra mim.

Se quero descubro que devo querer e que posso até querer sê-lo do jeito que eu quero, contanto que minha vontade se torne verdade.

Serei santo por que Ele quer e por que eu quero...

Ele me criou pra felicidade, quer que eu seja feliz; Eu quero ser feliz!

Eu sinto que preciso ser feliz; Ele me manda ser feliz quando diz ‘sede santo’!

Assim percebo que obedecer é saber ouvir; que é doce obedecer quando quem manda não pretende se sobrepor, mas me elevar.

Tanto que não me anula, não me santifica sem mim. Ao querer que eu queira o que Ele quer ele supõe tudo o que há em mim: caráter, temperamento, contexto (social, familiar, profissional, etc.)...

Logo, posso querer ser santo do meu jeito se isso significar ser santo sem precisar fazer coisas extraordinárias e sem perder minha identidade aperfeiçoando o meu existir.

Se ser santo do meu jeito significar fazer tudo somente pelo que vai na minha cabeça devo me lembrar de que a santidade existe antes de mim e que somente do meu jeito o que vou conseguir é antecipar e garantir o inferno.

Paradoxal responsabilidade: ser santo do meu jeito exige, por vezes, renunciar o meu jeito até mesmo pra que seja mais fiel ao meu jeito. É que Deus entende mais de mim do que eu e pode me levar a realizar em plenitude as coisas mais conforme ao meu jeito por que foi ele quem me fez, então meu jeito é mais dEle do que meu!

Terei a santa ousadia de ser santo! Por que Ele quer e por que eu quero... Serei o santo que eu quiser ser!

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Sim! (Canção)

Quando senti que me chamavas
Então eu duvidei que me olharias assim.
Depois foi que me convenci: me criaste, me chamaste
Pois quiseste precisar de mim!

Realizem-se em mim os planos teus.
Digo que sim, Senhor. Te entrego os anseios meus.
Faça-se em mim como disseste.
Abraço com amor a vocação que por amor me deste!

Refrão:
Quero renovar meu sim!
Quero que teu amor se manifeste em mim!
Sim, consciente eu digo que sim!
Que tua vontade se torne verdade em mim!
Sim! Quero gritar que sim!
Se vou longe de tua vontade a felicidade vai longe de mim!

Em face dos medos que me cercam,
Tentações que me apavoram, inseguranças que perseguem...
Seguro firme em tua mão.
Quero aprender de ti que tens manso e humilde coração!

Me ajuda a não abandonar a cruz.
A não caminhar em trevas
a ser tua cópia ó Cristo Jesus!

Refrão:

Ser eu é só comigo!

Sou aquele que sou, por que Deus, que me criou, é Aquele que É!
Permaneço sendo quem sou!
Tudo o que sou! Não só o que alguns dizem...
Apenas o que sou! Não tudo o que outros dizem...
Sou aquilo que me é dado ser e que me diferencia de qualquer outro que também é ou que possa vir a ser. Logo, ser eu é só comigo... não tente fazer isso em casa!!!
Ser eu é... antes de tudo... não ser você! (espero que essa sentença afaste pra longe qualquer projeção!)
Ser eu é... ter consciência de mim, pensar-me...; (ai de quem não o faz...)
Ser eu é... subsistir em mim mesmo; (isso supõe viver de dentro pra fora enraizado no que se é para não andar como folha levada pelo vento.)
Ser eu é... pensar antes no Outro, nos outros, em você; (é a partir da experiência do outro (do 'não eu') que me percebo. Ah! É assim com todo homem na face da terra! Aliás é significativo o fato de sermos criados por um Outro e de que no mundo há bilhões de 'outros' e apenas um 'eu'.)
Ser eu é... ser mais do que só um indivíduo;
Ser eu é.... ser uma PESSOA e minha missão é continuar sendo eu e colaborando com Deus enquanto ele me termina!!!

Sou o que sou pela graça de Deus

"Sou o que sou pela graça de Deus"! (ICor 15,10)

Um ser humano em estado constante de hominização;
Em incessante estado de humanização;
Em humano estado de divinização;
Rumo à plenitude, à plena realização,
à felicidade - que é santificação - que é por sua vez, descomplicação,
incessante processo de 'normalização' - sim, porque o santo é o mais normal dos homens - e, consequentemente um gradativo tornar-se raro, uma vez que o comum é o mais disseminado tipo de homem!
Recuso-me a ser COMUM! Permito-me ser NORMAL!
Dou-me todas as chances possíveis e imagináveis de ser eu mesmo! Fiel ao melhor de mim!
E a receita pra ser eu mesmo é dar um jeito de não ser sempre do meu jeito, pois, pura e simplesmente do meu jeito, só vou conseguir mesmo é dar um jeito de seguir sendo comum... ou seja, daquele jeito em que todo mundo é do mesmo jeito!!!
Então, o único jeito é dar um jeito de assumir o jeito de alguém que sabe me ser melhor do que eu e, que por isso pode, com conhecimento de causa, me ensinar pra mim - Jesus Cristo!
E enquanto dele me aprendo vou empreendendo ferrenha luta pra 'normalizar' o que em mim há de comum, ou seja, de formado por critérios da mídia, da maioria, da massa, da 'achologia' - que não é ciência e fica ditando - desde fora - o que devo pensar, falar e fazer pra ser aceito no e pelo mundo. Critérios que me engessam me impedindo de ser eu! O mundo que se acostume com meu jeito incomum de ser normal, de ditar - desde dentro - o que pensar, falar e fazer.
Quem se permite ser normal - os apelos à normalidade estão dentro de cada homem - é possuidor de felicidade incomum, estado normal de pessoas normais!!!

Fazer de Conta

Queria ser agora o que sou convidado a ser e não sou ainda.

Então faço de conta que já sou - que é pra ir me acostumando.

Faço de conta, mas não finjo. Pois quem finge engana e se engana

Enquanto quem faz de conta faz também esforço, sabe que ainda não é

Mas se experimenta sendo pra intuir como seria se de fato fosse.

Faço de conta contando com tudo o que faço pra alcançar a minha meta.

Fazer de conta desse jeito proporciona um gostinho antecipado do que alcançarei.

É esse gostinho que renova a firme esperança que me leva adiante.

A esperança que ele traz é tão grande que, quando não sinto o gostinho,

Sei encontrar o problema no meu paladar, no meu jeito de degustar, de apreciar.

Meu coração imagina e se emociona quando contempla o que imagina.

Se contempla imaginando, se imagina contemplando enquanto faz de conta...

Mas não faz de conta que se emociona, pois não faz de conta que imagina.

Nem faz de conta que faz de conta, por que se esforça pra dar conta do que faz de conta que faz.

Faz de conta e contempla; contempla e imagina como será a plenitude.

Faço de conta e me comparo com minha meta, que é meu modelo, uma pessoa.

Sem precisar fazer de conta vejo o muito que ainda há pra dar conta de fazer.

Contudo me surpreendo ao ver que de tanto fazer de conta na esperança

Já não sei mais ser de outro jeito. Por que só sou eu se sou Ele.

Por que sou, mas sou por que Ele deu conta de me fazer. Na verdade, estou sendo sido!


Minha meta está no alto e o alto está dentro de mim. Busco as coisas de lá.

O Alto é mais alto que tudo que há em mim, mas quer se confundir comigo.

Faço de conta que sou o que o Alto quer que eu seja e descubro cada dia:

É tudo o que sempre sonhei ser!

Por que todo mundo faz de conta que é o que sonha ser, e, quando persevera, dá conta!

É tão bela a experiência de fazer de conta que dou conta de fazer,

Que cada vez mais importa dar conta de seguir fazendo de conta, contando com o que faço.

Mas presto conta testemunhando, contando o que faço, que vale a pena dar conta de fazer de conta

Que já se é o que se é chamado a ser, que já se atingiu todas as próprias potencialidades.

Por que se faço de conta que já sou igualzinho a Jesus, ele tem chance de seguir me transformando nEle pra que eu seja Eu original, tal qual Ele me projetou quando quis me dar de presente a mim e ao mundo!

O que fazer depois de oferecer a outra face?

Nota do Autor

O presente trabalho não tem pretensões filosófico-bíblico-teológicas, mas simplesmente de falar com arte e um pouco de bom humor (porque Deus é AhuMOR) de uma realidade fatídica que assola cristãos de diferentes confissões e que será percebida ao passo que se lê a estória e se considera o epílogo que põe termo às intenções desta obra.
O leitor se deparará com citações dos Santos Evangelhos que foram feitas na medida em que eram recordadas pelo autor não tendo, por conseguinte, o escopo da precisão quanto à fidelidade dos textos ficando para os interessados a seguinte bibliografia – que, por ser subtraída a seu verdadeiro contexto se tornando pretexto – tem caráter de alusão sem nenhum rigor científico e deve ser apontada com sinal “cf.”:
MATEUS, MARCOS, LUCAS E JOÃO, Evangelho de Jesus Cristo, Edições Quaisquer, sendo os originais escritos aproximadamente do ano 50 ao ano 100.



* * *



Da família dos Bravios nasce às vinte e sete horas do dia trinta e um de fevereiro de um ano em que a terra tinha já perdido a paz, o menino chamado Brutus Violêncio. De temperamento forte e cheio de manhas, desde muito cedo era especialista em encontrar e inventar motivos para dar golpes e dizer impropérios. Sua personalidade foi se firmando de forma tal que no povoado em que morava, o já emancipado município de Soco Recíproco não havia ninguém que se chamasse a si mesmo de valente, pois quem se atrevia tão logo era obrigado a conjugar na primeira pessoa do presente imediato o verbo adefuntar, um dos preferidos de seu áspero vocabulário.
Brutus desenvolvera ao longo de seus abruptos doze primeiros anos de vida o desejo incontido de que sua personalidade fosse coerente com a sua aparência, uma vez que estava persuadido de que era mais fácil conformar a sua personalidade à sua medonha figura e quase impossível fazer o contrário. O infeliz e mal nascido Brutus, fruto do ventre, digo, da prisão de ventre de sua progenitora a senhora Maria da Agressão e razão do colapso de seu pai o velho senhor Mansidão Quinada possuía um par de olhos – e desgraçadamente no tempo em que nasceu um par também tinha que ser constituído de dois – olhos vermelho-amarelados como se toda a insônia universal tivesse pesado sobre ele. Levemente corcunda, tinha a excêntrica mania de roer as unhas, e por isso não usava sapatos, mas uma horrível sandália de couro de lagartixa – das que ele mesmo costuma caçar – para facilitar o acesso aos por ele chamados “polegares dos pés” e proceder ao corte das unhas – encravadas desde a sua indesejada concepção.
Era detentor de poderosa audição – prerrogativa de quem tem um palmo de ouvido externo. E o intervalo entre uma orelha e outra, ou seja, a cabeça era consciente de que existia só para bem desempenhar o seu papel: separar uma e outra orelha! Sua testa saliente, acesso rápido e infalível à nuca formando com ela um só e mesmo átrio, não fazia que ele fosse de todo calvo, uma vez que suas narinas não deixavam subsistir tal hipótese. O artístico rastafári nasal o obrigava a ter que espirrar a todo o tempo posto que devido a sua miserável pobreza não tivesse condições de comprar xampus anticaspa.
Não obstante a leve desproporção quanto ao número dos dedos das mãos (sete na esquerda e três na direita), encorajava-se a si mesmo a não sentir-se tão prejudicado, pois que infelicidade isto poderia trazer a alguém cujo membro superior direito faz o respectivo cotovelo ser como que um terceiro calcanhar? E isso é tanto mais vantajoso na medida em que com o membro superior esquerdo, incapaz de tocar a cintura, mas munido de uma generosa mão de sete dedos, pode simultaneamente proceder à assepsia das narinas, das cavidades auriculares e brincar de motorzinho com a língua posta entre os lábios produzindo aquele som angustiante que as crianças produzem antes mesmo de aprenderem a dizer “gugu-dadá”.
Sua intimidante altura eufemismada em razão da sua corcunda bastante acentuada ainda assim não deixava de causar espanto. Associados à pronúncia de seu terrível e conhecido nome, os seus modestos dois metros e trinta e dois centímetros com sete milímetros, lhes garanto, conseguia impor respeito – ainda que imerecido. Desesperado procurava uma panacéia em dose única para minorar seus sofrimentos – é digno de menção que ele tinha todo tipo de doença e que usar um remédio pra cada uma delas já o tinha feito experimentar mui fortes tonteiras e só não foi ao chão impedido pelo equilíbrio proporcionado por seu pé esquerdo que ocupa sozinho uma área de setenta por quarenta e três centímetros.
Não vou usar aqui a expressão “um belo dia...” porque na vida desse desgraçado sujeito não se podia contar dias belos se é que tal dia contava com a exibição da estrambótica figura de Brutus Violêncio. Contudo, o fato é que um dia depois da aula – sim, ele estava já no sétimo ano que não cessava de repetir a terceira série do primário. Invejável constância! Saindo do colégio depois da quinta briga costumeira (quatro – uma a cada intervalo e a última na saída), pisa com seu “pezinho” esquerdo sobre um papel que traz em si umas considerações nas quais ele se deteve por muitos minutos e por alguns motivos sendo o principal deles a dificuldade de enxergar dada ao fato de reunir nos seus olhos todos os graus da miopia. Quantas vezes ele não quis ser cego só para ser dispensado do esforço que tinha de empreender para ler as minúsculas letras que via nos outdoors espalhados pelas ruas?!
Ficou profundamente interessado no que dizia o papel depois de ter desistido de lê-lo de cabeça para baixo. O papel trazia uma frase que o ensinava a oferecer a face direita ao agressor que tivesse desferido um golpe na sua face esquerda. De primeiro impacto ele pensou que a frase fosse de autoria do maior louco de todos os tempos, mas percebeu que a frase não continha todos os erros ortográficos possíveis e imagináveis e que, portanto não podia ser sua. Assim sendo podia até ser de autoria de um louco, mas não do maior de todos os tempos. Ele não parou por aí. Começou a filosofar e percebeu que aquela sentença vinha ao encontro dos seus desejos mais ocultos e corroborava admiravelmente a sua conduta pessoal desordenada. Agora ele já louvava usando todo o seu léxico de adjetivos (bom e legal), o grande filósofo autor desta maravilhosa frase. Surge a partir deste momento a linha mestra da vida de Brutus Violêncio. Ele empenha doravante toda a sua vida no árduo e apológico trabalho de descobrir as diversas respostas para a pergunta que agora se lhe impõe: “o que fazer depois de oferecer a outra face?
Para avançar proficuamente em sua investigação ele concebeu a idéia de procurar outras frases do mesmo autor desta que tanto lhe ocupava os pensamentos e encontrou um livro com frases e fatos vividos por esse mesmo autor. Não tinha nunca ouvido dizer de como proceder à leitura desse livro, e então, como mais lhe convinha devorou este livro que guardava algumas afirmações que pareciam até mesmo ser famosas. A vida de Brutus agora tem um sentido, pois ele busca formar a sua filosofia de vida em base dessas sentenças. Ele apesar de grande e valente, várias vezes enquanto brigava teve o rosto esbofeteado em virtude da dificuldade de mover-se com destreza, com efeito, seu corpo era grande à proporção das próprias dívidas.
Um fato curioso o intrigava. Sempre que fora esbofeteado graças a sua lerdeza, o bofetão sempre alvejava a face esquerda – se bem que ele sempre tenha se confundido bastante nesse negócio de direito e esquerdo. Mas o que importa é que ele, com mais este agravante tem agora motivos suficientes para praticar tudo o que puder se depreender das coisas que se conserva daquele autor. A princípio lhe pareceu – e disso o quiseram convencer – que o autor da frase pretendia formar quem a lesse ou ouvisse para que fosse tardo no irar-se e não fosse ávido de vingança. Mas o fato é que Brutus está evoluindo no seu modo de pensar e que já não mais aceita opiniões vazias ou desprovidas de sentido lógico ainda que opiniões deste tipo fossem mais acessíveis à sua rasa compreensão.
Prosseguindo ele sozinho no ato próprio da sua razão chega à conclusão de que a opinião de que tentaram convencê-lo está correta apenas quanto à primeira proposição. O autor parece ter querido sim formar os destinatários da frase para serem tardos no irar-se, pois o fato de mandar oferecer a outra face antes de qualquer outra reação manifesta o não desejo de que se seja precipitado na decisão de como reagir – uso e abuso da santa paciência. Entrementes, quanto à segunda proposição achou por bem controverter, pois não é verdade que o autor também queria incutir um espírito antivingança uma vez que depois de mandar oferecer a outra face não prescreve nada mais deixando livre o leitor para ulteriores interpretações oriundas do caráter reticencioso dessa mesma proposição.
Persuadido disso como estava pôs-se a procurar naquele livro que traz uma seleção de fatos desordenados cronologicamente – e que pra ele às vezes não fazia o menor sentido – quais seriam as hipóteses de como reagir depois de alvejada a outra face. E para sua felicidade tão logo encontrou uma que muito lhe apetecia: “E tu, vai e faze o mesmo”! Pronto! Encontrara aí ótimo conselho. Está agora definitivamente derrubada a proposição em favor do não vingar-se. O autor mesmo mandara revidar! Estava eufórico por ter encontrado tão rapidamente uma primeira hipótese. E parece não ter sido a primeira só para efeitos de possibilidade, mas também como primeira reação que pode necessariamente ou não preceder outras de maior ou menor intensidade e repercussão.
Agora – pergunta-se ele – depois de ir eu e fazer o mesmo devo parar por aí, ou será que este livro ainda me fará sugestões que agradem ao máximo o meu espírito sádico? E com toda a voracidade mergulha novamente naquele livro ansiando por ver ratificada a sua mania de violência. E encontra agora aquele filósofo dando lições de como fazer uma guerra e fica convencido de que só deve parar depois de “ir e fazer o mesmo” quando perceber em sã consciência a opulência do tamanho ou da força física do agressor considerando até se ele vem acompanhado ou não, e se vem, por quantos.
Quão maravilhoso é esse livro! Nem mesmo um pequeno curso por correspondência que Brutus tinha em sua posse intitulado “A Glória de ser Déspota aprenda passo a passo” de um autor chamado Severus Pulsat oferecia tantas possibilidades criativas e eficientes de vingar-se com classe. Muito lhe inspiravam aquelas sentenças que evocavam a hipótese de prosseguir com a vingança valendo-se do sequestro com tortura: “... ali haverá choro e ranger de dentes... dali não sairás enquanto não pagares o último centavo”! Brutus flutua na meditação e começa tão logo a adquirir armas de fogo de todos os calibres e gêneros para que pudesse pôr em prática o que lhe sugerisse sua insana imaginação, sua destrutiva criatividade.
Contudo, não cessando a leitura do livro – que em se tratado de violência é como um sol que não conhece ocaso - encontrou o filósofo afirmando com toda a veemência que não viera trazer paz ao mundo, mas a espada! Agora teve de se ocupar em vender todas aquelas armas de fogo e começar a adquirir foices, canivetes, punhais, navalhas, facas, machados, espadas e outros. E não podia ser diferente, pois também aquele filósofo dissera que o servo não é maior que o seu senhor, e se ele era adepto apenas do uso de armas brandas, Brutus também seria! E ele já se considerava amigo daquele filósofo que dizia que seus amigos eram os que seguiam seus preceitos. Brutus não teria dificuldades em obedecer aos preceitos daquele que lhe abrira os olhos para a realidade nua e crua, digo, cruenta deste mundo. Decidiu-se que obedeceria a ordem que dera a mãe dele numa festa de casamento – ele não queria tomar nenhuma providência e ela mandou que fizessem tudo o que ele dissesse. O filósofo já estava convencido de que nada poderia fazer, de tal sorte que o olhar de sua mãe com certeza foi ameaçador e medonho naquele intervalo entre o “... a minha hora ainda não chegou” e o “fazei tudo o que ele vos disser”!
Certamente – pensava Brutus – aquele mestre da violência aprendera da própria mãe a arte de intimidar como ela o intimidara naquela festa de casamento com apenas um olhar que lhe sugeria: “reage se não...” E isso ficava cada vez mais evidente quando via o mestre chamar adeptos para a sua violenta doutrina. Nada explicava de início, não sabia dizer ‘por favor’ e nem perguntar se o sujeito queria, mas apenas dizia com ares de quem não deixa outra opção: “Vem e segue-me”! A postura daquele mestre punha em fuga qualquer sujeito. Brutus estava impressionado com aquele episódio onde seus inimigos querem fazer-lhe mal o lançando ao precipício e ele simplesmente passa pelo meio deles e ninguém lhe põe a mão. Quem se atreveria? E se ele convocasse uma legião de anjos para defendê-lo como em outra oportunidade afirmou que era possível fazer? Como Brutus o invejava!
Agora Brutus começa a perceber que aquele filósofo ensinou aos seus primeiros seguidores a enganar o adversário fazendo-o pensar que está com vantagem pra que depois ele veja o que é bom. “Eis que vos envio como ovelhas no meio de lobos” Que inteligência espetacular e minuciosa! Este homem devia trabalhar em alguma espécie de serviço secreto! E mais, Brutus estava aprendendo com ele a ser humilde e covarde quando fosse conveniente para sobreviver por mais tempo e deleitar-se evoluindo na própria violência. Eis que agora Brutus lê e consegue imaginar o homem dizendo aos seus: “acerta as contas com teu adversário enquanto estás a caminho com ele para que não aconteça que ele te entregue ao juiz...” É... ser violento é justo e necessário, mas não dá pra ser idiota. Quando convém é bom não parecer valente, mas covarde! É lógico! Agora Brutus tem uma definição de violência: “É a arte de agredir oportuna e inoportunamente desde que a ocasião não impeça”! E o idiota seria aquele que agride oportuna e inoportunamente sem considerar a ocasião. Note-se o progresso na filosofia de Brutus! Faz contemplar ao contrário a frase da bandeira brasileira: há relativo progresso, mas o que ele terá feito com a ordem? Uma filosofia cinco estrelas – todas cadentes, diga-se de passagem.
Brutus ia anotando todas as conclusões filosóficas a que chegava e concluiu que tudo era muito bom! Principalmente quando leu que aquele filósofo ensinava a respeito de um ‘reino dos céus’ e o que se concluía de suas palavras é que esse reino era tudo de bom, era a mesma bondade! E devia mesmo ser bom com um ‘b’ bem grande – intuía Brutus – pois o homem havia dito que esse reino era conseguido à custa de violência e que só os violentos teriam acesso a ele. Um dia Brutus descobre que tudo o que é, é bom, uno, verdadeiro e belo e então assim devia ser esse ‘reino dos céus’. Mas depois vê aquele homem afirmando ser a verdade. Brutus já estava convencido de que a verdade não sabe mentir, mas agora ele tem que admitir que aquele filósofo o estava decepcionando. Como é que a verdade se poderia contradizer? Eis que Brutus entra numa crise violenta! Aquele que o fizera apaixonar-se por um ideal agora frustra todas as suas expectativas! Aquele homem não sabia ser uno! Sim, agora Brutus é capaz de perceber a incoerência nos atos daquele homem que faz secar uma figueira que não dera figos sabendo que não era tempo de figos. E mais, usou mal o seu poder, uma vez que da mesma forma poderia tê-la mandado produzir figos e pronto!
Aquela mente brilhante parecia agora estar ficando embaçada em virtude do desequilíbrio latente em todas as suas ações. Afinal, o que mais poderia querer um cego que está à margem do caminho senão poder enxergar? Não é tão óbvio? Pois aquele filósofo tivera a capacidade de perguntar a um cego desses: “O que queres que eu te faça”? Pobre Brutus Violêncio! E agora? Toda a sua filosofia estava ruindo! O que fazer? O que pensar? Que providências tomar? Sim, pois se aquele homem se contradiz quem vai ser capaz de acreditar nele e de fazê-lo acreditado? Brutus agora se recorda de ter lido que aquele homem dissera que o Pai é quem dá testemunho dele, mas lembra-se também de que ele se negou a mostrar o Pai a um tal Filipe que lhe pedira este obséquio.
Brutus está profundamente decepcionado! Perdera-se o sentido com que tentar fazer pleno aquele intervalo entre o seu esdrúxulo nascimento – sim, nascera sozinho em casa enquanto sua mãe esta na feira – e a sua morte desejada por tantos e tentada por ele mesmo tantas vezes, porém sem sucesso. Entrou num tal estado de nervos contra aquele filósofo – que agora para ele não passava de uma fraude – que precisava de algum calmante. Receitaram-lhe água com açúcar, mas ele não conseguiu ingerir por não conhecer a receita! Ele estava agora disposto a responder com toda a sua ira aquela pergunta que esse filósofo fizera a seus seguidores numa determinada região: “E vós, quem dizeis que eu sou?” Mas não respondeu por que de tal modo se ocupara de sua filosofia que relegara ao esquecimento todo o seu léxico de impropérios que agora era menor do que o de adjetivos. Então agora ele manifesta sua decepção com o filósofo somente suspirando enquanto diz: “É...”
Brutus começa a pensar que não vale a pena ser adepto de tal filósofo. Imagine que agora ele o está vendo ser agredido no rosto e não oferece ao outra face como ele mesmo ensinara! Porventura teriam começado pela face direita, e, uma vez invertida a ordem dos fatores a filosofia não funciona? Brutus não sabe, só sabe que além de tudo o filósofo ainda reage dizendo: “Se falei mal, mostra-me em que, mas se falei bem, por que me bates”? Não era esta a reação esperada de alguém que dizia ter vindo trazer fogo à terra! Brutus quer separar-se de tal filósofo! Que absurdo! Ele fala até de cruz e sofrimento! E que história foi aquela de chorar por um amigo? Que história é essa de “Vede como ele o amava”? Brutus estava mais interessado em “vede como ele o ‘amassava’ ou ‘amarrava’”! Aquele que ensinou que do coração é que provêm os assassínios, roubos, pensamentos impuros entre outras coisas más agora diz: “Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração”! Conversa fiada! Brutus não quer mais saber desse filósofo. Quer desvincular-se. Mas como?
Ah! O mesmo filósofo parecia ter dado a receita: “Quem não está comigo está contra mim”! É isso! Brutus não está mais com esse filósofo. Na verdade aquele “Sem mim nada podeis fazer” nunca o tinha convencido mesmo! Brutus estava convicto de que podia tudo sem alguém que diz trazer a espada ao mundo e depois manda um dos seus pôr a espada na bainha e não usá-la. Que homem é esse a quem o vento e o mar obedecem, mas que se deixa matar daquele jeito? Que raio de livro é esse que se contradiz sempre? Brutus chorou! Também não era pra menos. Aquele de quem se esperava toda a violência partira prometendo enviar um Defensor! A separação está agora definitivamente dada! E Brutus não pode conviver com tamanha desilusão! Agora perdeu-se todo o brilho daquele jargão que tanto o animava: “Violência gera violência”. O homem com quem pensou que aprenderia a ser violento em plenitude era um manso cordeiro!
Mais uma vez então Brutus se tenta matar rasgando-se da boca até ao calcanhar, mas devido à desigualdade de tamanho dos membros superiores fracassa ainda essa vez. Tivesse ele tentado perder a vida em vez de morrer, e já teria conseguido na primeira tentativa, pois nunca olhava bem onde deixava as suas coisas. Mas não desistiu. Depois de fracassar ainda umas quinze vezes com tentativas inúteis como: morrer de rir; morrer de raiva; morrer de vergonha; morrer de medo (com ele esta era a que menos funcionava) e morrer de frio (mas está tão gordo que há muito já não conseguia dormir dentro da geladeira) viu que um dos seguidores daquele filósofo também se decepcionou irremediavelmente com ele traindo-o e depois foi enforcar-se. Assim termina a trajetória filosófica de Brutus Violêncio que vendo o desatino deste seguidor agiu conforme mandara o segundo conselho que encontrara na pesquisa daquele livro desorganizado: “E tu, vai e faze o mesmo”!
Brutus encontrara naquele livro muitas possibilidades de como reagir depois de oferecer a outra face, mas conjugou o verbo adefuntar na primeira pessoa – agora do tempo infortúnio presente – antes de ler “perdoai setenta vezes sete”. Se antes tivesse já se deparado com esta sentença certamente teria se adefuntado há muito mais tempo. O município de Soco Recíproco anuncia o falecimento daquele que há tantos anos dinamizava a vida de seu povo. Que fazer agora sem os fortes gritos que dava pelas ruas? A quem recorrer em caso de eminente briga desfavorável para si mesmo? Que serão das festas e das aulas sem as brigas interessantes e engraçadas em que ele se envolvia? É... Brutus deixa saudades! Em sua homenagem escreveram um epitáfio: “Aqui jaz em paz o que queria a guerra, descansa o que cansou de descansar duro e frio como sempre foi, mas pacífico e manso como nunca seria se aqui não estivesse”!

O Breu e eu

A noite está escura lá fora.
Mas é noite também dentro de mim.
Aqui a escuridão é bem mais densa,
mais pesada, mais espessa.
As lágrimas que rolaram pela minha face,
não iluminaram, apenas molharam a escuridão.

A noite está um tantinho fria lá fora.
Mas a noite aqui dentro é gelo puro.
Aqui o frio é bem mais cortante,
mais duro, mais angustiante.
As lágrimas que rolaram pela minha face
não aqueceram, apenas umedeceram o frio.

A noite lá fora está acompanhada de astros de luz.
Mas a noite aqui dentro tem a própria escuridão por companhia.
Aqui a solidão é bem mais sozinha,
mais solitária, mais daninha.
As lágrimas que rolaram pela minha face
não acompanharam, apenas contemplaram a solicitude dos astros por outras noites...

A noite lá fora tem as carícias do vento.
Mas a noite aqui dentro inda precisa de amor.
Aqui a carência é bem mais forte,
mais viva, mais morte.
As lágrimas que rolaram pela minha face
não me amaram, apenas manifestaram que preciso de amor.

A noite lá fora em breve terá um fim.
Mas sobre a noite aqui dentro não sei o que dizer...
Aqui a duração é bem mais durável,
mais intensa, mais interminável.
As lágrimas que rolaram pela minha face
não amanheceram, apenas avisaram que isso pode demorar.

A noite lá fora proporciona a possibilidade de descansar.
Mas a noite aqui dentro tem me cansado de viver.
Aqui o cansaço é bem mais que um fato,
mais farto, mais exausto.
As lágrimas que rolaram pela minha face
não descansaram, apenas traduziram um sofrido suor.

A noite lá fora coexiste comigo.
Mas a noite aqui dentro quer existir em mim, mas sem mim.
Aqui a existência é bem mais doída,
mais latejante, mais sofrida.
As lágrimas que rolaram pela minha face
não abrandaram, apenas marcaram esta face da minha existência.

A noite lá fora inspira poetas.
Mas a noite aqui dentro, só neste ponto, não quis ser diferente.
Aqui a inspiração é bem mais cruel,
mais amarga, mais pra fel...

As lágrimas que rolaram pela minha face
não adoçaram, apenas cobraram gratidão
à arte que habita em mim,
que, fazendo sua poética parte
faz que me ocupe e que assim não me mate,
Dando-me sempre um artístico fim.

O que dizem de mim

“Jesus foi à região de Cesaréia de Filipe e ali perguntou aos discípulos: “Quem é que as pessoas dizem ser o Filho do Homem?”Eles responderam: “Alguns dizem que és João Batista; outros, Elias; outros ainda, Jeremias ou algum dos profetas”. “E vós”, retomou Jesus, “quem dizeis que eu sou?” Simão Pedro respondeu: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”. Jesus então declarou: “Feliz és tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi carne e sangue quem te revelou isso, mas o meu Pai que está no céu. Por isso, eu te digo: tu és Pedro, e sobre esta pedra construirei a minha Igreja, e as forças do Inferno não poderão vencê-la. Eu te darei as chaves do Reino dos Céus: tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus”. Em seguida, recomendou aos discípulos que não dissessem a ninguém que ele era o Cristo.” Mt 16, 13-20

Jesus pergunta aos seus amigos o que os outros têm dito a seu respeito. Os coloca entre a opinião corrente e aquela que devia ser formada experiencialmente, produto do contato pessoal e intransferível com ele. A questão toda gira em torno da pergunta: “Quem sou eu?”

“Quem é que as pessoas dizem... que eu sou?”

“Alguns dizem...; outros...; outros ainda...”

As opiniões são as mais diversas. Os nomes dados variam de acordo com a ligação que fizeram entre o autor da pergunta e a pessoa, a vida, e a obra de outras pessoas, tudo isso somado a outras opiniões não próprias. Jesus se interessou pelo que ‘as pessoas’ diziam a seu respeito, mas o seu interesse por isso não encontra aí a sua razão senão em inquirir deles uma opinião própria, formada, toda tecida de experiências pessoais deles com ele.

Ao perguntar ‘quem sou eu’, muitas sentenças me vêm à cabeça quando me recordo do muito que tange o ‘quem é que as pessoas dizem que eu sou...’ e aí da mesma forma vou contemplando...: “Alguns dizem...; outros...; outros ainda...” e o fato é que sempre me imaginam, me idealizam ora muito melhor do que de fato sou, ora muito pior... ‘Alguns dizem...’ por que ouviram ‘outros’... que repetiram o que ‘outros ainda’ disseram... O fato é que em meio a esse turbilhão de opiniões até convém perguntar, como Jesus fez, aos que estão mais próximos qual a experiência que eles têm feito de ‘quem sou eu’.

“E vós, quem dizeis que eu sou?” Pode ser que alguém, como Pedro consiga ver com os olhos de Deus, e, tendo convivido comigo há um tempo considerável, dizer quem eu sou e de quem eu sou filho. Claro, precisa ver com os olhos de Deus, desse Deus que está diante de Simão e pode dizer tudo o que vê: Tu és Pedro (pedra)! Ele viu pedra! E chamou de pedra! Cabeça dura como pedra! Coração duro como pedra! Contudo, fundamento da sua Igreja! O viu! Sabia do que ele era capaz! Não criou expectativas... Não o idealizou... Não disse Paulo que ‘o amor tudo espera’? (1Cor 13, 7) Jesus é o mais preparado pra responder a qualquer um que lhe pergunte ‘quem sou eu’...

“Feliz és tu, Simão... por que não foi a carne nem o sangue que te revelou isso...” Interessante! Quem não se prende aos limitados critérios e meios que possui: a luz (?) da própria opinião e àquilo que ‘as pessoas dizem’... é FELIZ! É feliz por que dá ao Pai que está no céu a oportunidade de revelar o que não se pode saber de outra forma! E o Pai nos revela o valor real de uma pessoa! A sua identidade! No meu caso, a identidade de pessoa cristã! O Pai a revela dizendo como a respeito de Jesus no batismo do Jordão: ‘Eis meu filho muito amado no qual pus a minha afeição.’ Então não é dado a ninguém jamais subestimar o meu valor com juízos precipitados. Não cabe a ninguém superestimar o que sou, pois sou filho adotivo e não natural. Não sou Deus! De antemão digo a quem se dispuser a conferir com o Pai ‘quem sou eu’: você é FELIZ! Tem menos possibilidades de se decepcionar comigo! Pois ele não vai dizer pra você que eu sou perfeito. Vai dizer pra você qual a minha dignidade. Vai te lembrar que tenho defeitos, mas que não estou condenado a morrer com eles! E no mais, quem quiser saber mais e melhor sobre ‘quem sou eu’, deve ouvir a voz desse Pai dessa vez através da passagem da Transfiguração do Senhor: “Este é o meu filho muito amado; escutai-o.” (Mc 9, 7) Isso mesmo: pergunte pra mim!