"Uma vida que não é examinada não merece ser vivida!"
Sócrates

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Merecer o Amor de Deus?

Muito se fala e se ouve sobre o amor de Deus. E, no entanto, pouco se entende de fato do que se trata, quando se fala dele.
A gente participa de encontros, ouve palestras, homilias, ou lê um artigo como esse ou um capítulo de um livro e não raro se depara com esse tema sendo tratado.
Não quero aqui deter-me em considerações sobre a natureza divina. Já muito se ouviu dizer que Deus é Amor! (1 Jo 4, 8)
Quero abordar aqui a grande dificuldade que se tem em confiar nesse amor, sendo nós como somos...
A indagação difícil de calar é: “como é que Deus pode me amar se eu sou do jeito que eu sou? Se eu faço tudo o que eu faço? Se eu peco tanto?”
Desde o “Não faça isso! Papai do céu não gosta!” de quando éramos pequeninos, fomos sendo educados para crer num Deus que nos ama se acertamos, mas se não... O que nos leva a tomar distância dele..., a nos esconder tal qual fazíamos quando sabíamos que íamos ser reprovados por nossos pais depois de aprontar alguma!
Penso que a maior dificuldade de nos entregar docilmente a esse amor deriva do fato de termos de Deus uma idéia de Ser mal-humorado que está sempre disposto a reprovar e castigar sempre que não o agradarmos com nossa conduta. Sim, Deus é justo Juiz! Contudo, é pelo mesmo fato de ser a justiça mesma que Ele sabe até das motivações que não conhecemos quando cometemos tais e tais atos. Não é incrível que quando são João fala das faltas que cometemos, ele se refira ao Deus que está pronto a perdoá-las como sendo ‘fiel e JUSTO’? (cf.: 1 Jo 1,9)
Qualquer um esperaria que o versículo mencionasse um Deus que está pronto a perdoar por que é ‘fiel e MISERICORDIOSO’!
Então, assim entendemos que nada é mais justo que a justiça de Deus, que conhece todas as coisas e é maior que o nosso coração quando ele nos condena. (cf.: 1 Jo, 3,20) Quem nos condena é o nosso coração (consciência) e não Deus! O que se diz de condenação divina só ocorre quando o nosso coração nunca nos condenou..., e vivemos como quem nunca precisou de perdão! Aí Deus nos ‘condena’ pelo puro e simples fato de que não pôde nos perdoar... por que NÓS não quisemos ser perdoados.
Não precisamos e nem podemos ter medo deste Deus! Ele é Amor! E é assim que o Amor nos ama: promovendo-nos, não nos condenando!
Agora é momento de mudar a indagação, que, esta sim, não pode calar: “Se Deus me ama tanto e até me ama como sou, por que eu faço tudo o que eu faço? Por que eu peco tanto?
É preciso estar convencidos de que não podemos merecer o amor que Deus nos tem! Mesmo por que, amor merecido não é amor, pois pra ser amor precisa ser gratuito! “Pois bem, a prova de que Deus nos ama é que Cristo morreu por nós, quando éramos ainda pecadores.” (Rm 5,8)
Amor incondicional! Eu não preciso fazer coisas boas antes, pra só depois ser amado! É justamente e misericordiosamente esse Amor que me faz bom e me ensina a agir bem, claro, imitando-O! Doce e salutar conclusão:
Deus não me ama por que TUDO o que EU FAÇO é bom! Deus me ama por que TUDO o que ELE FAZ É BOM!!! (Gn 1,31)
Logicamente isso não quer dizer que devemos pecar à vontade já que Deus nos ama como somos. Mas, posto que nos ama sem merecermos, agora o que nos resta é ser-lhe gratos eternamente sabendo que nunca vamos conseguir amá-LO como Ele merece! Sim, pois se há uma pessoa que merece ser amada, é Deus!
Dúvidas, questionamentos e sugestões para um eventual próximo artigo, deixe-os aqui nos comentários.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

O processo do amadurecimento

Amadurecer é difícil e um exercício que traz no seu bojo a idéia de 'processo'. Maturidade é processual: "Quando eu era criança, falava como criança, pensava como criança, raciocinava como criança. Quando me tornei adulto, rejeitei o que era próprio de criança." (1Cor 13,11) Assim é o processo. A maturidade chega quando nos tornamos capazes de 'rejeitar' o próprio de criança, ou seja, a incapacidade de rejeitar conscientemente, em coerência com a verdade. Quando crianças, estamos conhecendo tudo o que está ao nosso redor e tudo nos influencia. Nos tornamos maduros quando somos capazes de perceber que se o 'tudo' está ao nosso redor é porque estamos no meio do tudo. Então já nos percebemos, já começamos a nos relacionar conscientemente, a exercer influência no 'tudo' ao redor, de propósito, sabendo que posso influir para o bem ou para o mal - distinção possibilitada pelo conhecimento da verdade. O desafio, nesse estágio, penso eu, é o de concomitantemente ser instruído e instruir-se, ser educado e educar-se. O educando precisa encarar o amadurecimento também como autoformação.
"Esforçai-vos por entrar pela porta estreita. Pois eu vos digo que muitos tentarão entrar e não conseguirão." (Lc 13,24)
O homem que consegue entrar pela porta estreita da humanização é o homem maduro. Pela porta só cabe o homem humanizado, de outro modo não pode entrar por ela. É preciso adaptar-se a estreiteza da porta e isso exige esforço. Penso esse esforço com uma dimensão de docilidade e uma de desenvoltura. Docilidade aqueles que já há mais tempo se esforçam para passar pela porta (os educadores - de direito ou não). E precisamente aqui está o problema dos educadores de 'porta larga'... aqueles 'muitos que tentarão entrar e não conseguirão'... e ainda atrapalharão a muitos que precisam entrar. Desenvoltura no sentido de não se contentar com o grau atingido. "Uma coisa, porém, faço: esquecendo o que fica para trás, lanço-me para o que está à frente." (Fl 3,13) E o que está sempre a frente do educando, do maturando? A plena humanização! A estatura do Homem perfeito. (cf.: Ef 4, 13)
Considero que um dos primeiros exercícios que 'estreitam' o homem no processo de humanização (educativo/maturativo) e o leva a pensar como pessoa, é o esforço por conceber e amar a noção certa de pessoa. Pessoas que não chegaram a essa noção são e não conseguem ser o que são! "...tentarão entrar e não conseguirão."

Educar para a Liberdade

O cerne do processo educativo é a verdade. A base onde se edifica o processo é constituída por inteligência e verdade, que é seu objeto. O homem se torna livre tanto quanto conhece. Se conhece mais, é tanto mais livre. "Conhecereis a verdade e ela vos fará livres." (Jo 8, 32) O educando deve se ocupar da pergunta de Pilatos: "Que é a verdade?" (Jo 18, 38) pois o homem, para ser livre, precisa conhecê-la e testemunhá-la. Testemunhar a verdade é testemunhar a própria liberdade.: "Eu nasci e vim ao mundo para isto: para dar testemunho da verdade." (Jo 18, 37)
Educar conduzindo, como pensou Aristóteles, implica fazer com que o educando seja protagonista da sua educação, logo, a vontade livre do educando deve corresponder à ação consciente do educador que atentará para o fato de que o método é o caminho, não o ponto de chegada! Tem-se, de fato, adestrado muito em vez de educar. O educando (adestrando) não se torna capaz de pensar, de discernir, de avaliar, de julgar... não descobre verdadeiros valores, uma vez que a vontade só é livre se apetece o bem e só pode apetecê-lo se o conhece como tal só podendo discerni-lo do mal se for iluminada pela verdade que por sua vez só é descoberta paulatinamente no processo educativo. Daí se acharem críticos aqueles que repetem frases feitas e também aqueles que pensam que pensar e ser livre é discordar de tudo e todos, ficando escravos da dúvida. Ora, se etimologicamente ‘educar’ sugere tirar de dentro, esse tipo de processo resulta em fechar o educando em si mesmo impedindo-o até de formular questões cruciais a existência humana. Esse tipo desastroso de processo educativo (adestramento) diminui o homem, que é um não acabar de possibilidades que precisam ser atualizadas para que conquiste a sua liberdade interior, para que seja ele mesmo, pois não nasce pronto.