"Uma vida que não é examinada não merece ser vivida!"
Sócrates

quarta-feira, 7 de julho de 2010

O Breu e eu

A noite está escura lá fora.
Mas é noite também dentro de mim.
Aqui a escuridão é bem mais densa,
mais pesada, mais espessa.
As lágrimas que rolaram pela minha face,
não iluminaram, apenas molharam a escuridão.

A noite está um tantinho fria lá fora.
Mas a noite aqui dentro é gelo puro.
Aqui o frio é bem mais cortante,
mais duro, mais angustiante.
As lágrimas que rolaram pela minha face
não aqueceram, apenas umedeceram o frio.

A noite lá fora está acompanhada de astros de luz.
Mas a noite aqui dentro tem a própria escuridão por companhia.
Aqui a solidão é bem mais sozinha,
mais solitária, mais daninha.
As lágrimas que rolaram pela minha face
não acompanharam, apenas contemplaram a solicitude dos astros por outras noites...

A noite lá fora tem as carícias do vento.
Mas a noite aqui dentro inda precisa de amor.
Aqui a carência é bem mais forte,
mais viva, mais morte.
As lágrimas que rolaram pela minha face
não me amaram, apenas manifestaram que preciso de amor.

A noite lá fora em breve terá um fim.
Mas sobre a noite aqui dentro não sei o que dizer...
Aqui a duração é bem mais durável,
mais intensa, mais interminável.
As lágrimas que rolaram pela minha face
não amanheceram, apenas avisaram que isso pode demorar.

A noite lá fora proporciona a possibilidade de descansar.
Mas a noite aqui dentro tem me cansado de viver.
Aqui o cansaço é bem mais que um fato,
mais farto, mais exausto.
As lágrimas que rolaram pela minha face
não descansaram, apenas traduziram um sofrido suor.

A noite lá fora coexiste comigo.
Mas a noite aqui dentro quer existir em mim, mas sem mim.
Aqui a existência é bem mais doída,
mais latejante, mais sofrida.
As lágrimas que rolaram pela minha face
não abrandaram, apenas marcaram esta face da minha existência.

A noite lá fora inspira poetas.
Mas a noite aqui dentro, só neste ponto, não quis ser diferente.
Aqui a inspiração é bem mais cruel,
mais amarga, mais pra fel...

As lágrimas que rolaram pela minha face
não adoçaram, apenas cobraram gratidão
à arte que habita em mim,
que, fazendo sua poética parte
faz que me ocupe e que assim não me mate,
Dando-me sempre um artístico fim.

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